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ARTE E VIDA

É interessante pensar em como a arte pode, por meio de registros, dialogar direta ou indiretamente com a vida, a memória e o fazer das pessoas. Uma exposição, ao mesmo tempo em que se torna pontual e temporária, pode ligar imaginários de diferentes pessoas que vivem em contextos distantes e em tempos distintos.
 
Ao nos depararmos com um objeto artístico, é possível lidar com nossas vidas, nossas referências e nossa bagagem cultural. O impalpável, o imaginário, se torna tangível e pode se tornar um respiro em um mundo urbano, em que corremos a todo instante e nunca questionamos nossos atos repetitivos.
O saber prático e o fazer cotidiano criam um claro distanciamento sobre aquilo que objetivamos possuir e o conhecimento que adquirimos ao longo da vida. Dessa forma, é por meio da arte que tentamos recriar um universo que faça com que – simbólica e/ou literalmente – nossos pés possam voltar a tocar a grama que nunca antes foi pisada, ou melhor, sentida.
 
O olhar para arte, a contemplação, o observar e o interpretar são alguns dos aspectos que podem trazer o universo artístico de determinado artista para o público, que se permita a imersão.
 
No entanto, ao entrar em contato com obras de alguns artistas contemporâneos, aqueles que contam parte de suas vidas a partir de suas criações, a arte se mistura com universos vitais e assim, conta histórias que podem se fundir com as histórias dos apreciadores de tal fazer artístico. Por vezes, pontualmente, recordamos de brincadeiras, diálogos familiares, vivências e experimentações.
 
Arte e vida não deveriam nunca se separar, partindo da ideia que estas caminham conjuntamente pela história: dos fazeres tribais, das pinturas rupestres, das pinturas renascentistas, da música popular, do teatro do oprimido, do dadaísmo, do primeiro desenho realizado por uma criança, do tango argentino, do funk, do cinema novo, da arte contemporânea e de tantas e diversas manifestações e expressões artísticas e culturais.
 
Partindo das ideias do dramaturgo alemão Bertold Brecht, é possível entender que arte é aquilo que gera o pensar, o descobrir.  Não seria a arte um meio fundamental para descobrirmos e pensarmos sobre nossas próprias vidas?
 
Os Penélope foi uma exposição realizada sobre a obra de dois artistas contemporâneos brasileiros, que abriram suas vidas e sua arte para nós, expectadores.
 
Arthur Bispo do Rosário, negro, neto de escravos, marinheiro, boxeador, nordestino, pobre, esquizofrênico, bordador. Artista.
 
José Leonilson Bezerra Dias, contestador, homossexual, viajante, romântico, HIV positivo, companheiro, apaixonante, apaixonado, bordador. Artista.
 
Penélope, personagem Homero, foi mulher, resistente, atemporal, apaixonada, de beleza mitológica, bordadeira e – porque não? – artista.
 
Essas são vidas que chegaram com suas histórias arrebatadoras e trouxeram à tona aspectos e adjetivos sobre suas vidas, que carregaram e respiraram arte.
 
Mediadores que trabalham com educação em espaços expositivos são constantemente arrebatados por escutas precisas que vêm de públicos distintos, seguem por toda a vida com bagagens, falas e processos.
 
Essas são vidas que chegam e seguem com olhares deslocados para seus respiros, intervalos e pequenos deslocamentos.
 
Visitantes de exposições que são constantemente abarcados por diferentes espaços, tempos e diferentes formas de vivenciar arte.
 
Vida pode se modificar e pode nunca mais voltar a ser a mesma.
 
Vida e arte. Um percurso em conjunto.
 
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